O rapper Emicida foi detido por desacato a autoridade na noite deste domingo após um show em Belo Horizonte. Antes de cantar sua nova música, “Dedo na ferida”, Emicida comandou a plateia a levantar "o dedo do meio para a polícia que desocupa as famílias mais humildes", fazendo menção a Ocupação Eliana Silva, também na capital mineira, de onde famílias sem-terra foram desalojadas no último dia 12.
"Levanta o seu dedo do meio para os políticos que não respeitam a população e vem com 'noiz' nessa aqui, ó", continua o rapper, "Mandando todos eles se fuder, certo, BH? A rua é 'noiz'.”
Logo após o show, por volta das 19h30m, Emicida foi levado pata a 36ª Delegacia Seccional de Barreiro, onde prestou depoimento. Por volta das 22h30 o rapper foi liberado e agradeceu o apoio dos fãs pelo Twitter.
"Acabo de ser liberado. Desacato de autoridade por cantar uma música. Obrigado pelo apoio, essa semana emitiremos uma nota", disse na rede social.
Paulo Miklos, vocalista dos Titãs, considera a prisão arbitrária e resultado da falta de preparo da polícia. Para ele, policiais não deveriam cuidar da segurança de shows, pois não são especializados nisso. Clique aqui e lembre outros casos de problemas entre artistas e policiais.
- A polícia não pode usar o poder para humilhar o cidadão que tem a palavra e está se manifestando. É um direito que o cidadão tem antes do artista - defende o músico - Ninguém incita a violência ou a revolta contra a polícia ou a instituição, mas sim (contra) o uso da força. Quem responde pelo abuso de autoridade de colocar gente despreparada para cuidar do show? - questiona.
Lançada no início de março, “Dedo da ferida” fala sobre comunidades e áreas pobres desocupadas ou vítimas de violência policial. Antes de começar a cantar, Emicida dedica a música “às vítimas do Moinho, Pinheirinho, Cracolândia, Rio dos Macacos, Alcântara e todas as quebradas devastadas pela ganância". O clipe pode ser visto neste link.
Segundo a PM de Minas Gerais, o músico incitou o público a fazer gestos obscenos para os agentes e também para políticos durante a música. Em nota oficial, Emicida afirma que no Boletim de Ocorrência os policiais colocaram uma frase diferente da que ele teria dito no palco.
Um vídeo com o rapper falando a frase acima pode ser visto neste link. Já a polícia teria alegado que ele disse: “Eu apoio a invasão do terreno Eliana Silva, região do Barreiro, tem que invadir mesmo, levantem o dedo do meio para cima, direcione aos policiais, pois todos esses tem que se f****”.
O rapper afirma que em “nenhum momento se dirigiu diretamente aos policiais militares que trabalhavam no evento ou pediu que o público fizesse algum gesto obsceno a eles” e garante que o show ocorreu sem nenhuma confusão. Por discordar do conteúdo do boletim de ocorrência, ele se recusou a assiná-lo. A íntegra do boletim, publicada no site de Emicida, pode ser lida abaixo:
“Senhor Delegado,
Nesta data, ocorreu um evento na Av. Afonso Vaz de Melo, próximo a PUC de Barreiro, conforme ordem de serviço nº 306812/41º BPM, acordado entre o comando e organização do evento, denominado “Palco Hip Hop”, onde vários artistas gênero se apresentaram, dentre os quais destacamos a participação do presente conduzido de codinome “Emicida”, este na abertura do seu show, proferiu os seguintes dizeres: “eu apoio a invasão do terreno “Eliana Silva”, região do Barreiro, tem que invadir mesmo, levantem o dedo do meio para cima, direcione aos policiais, pois todos esses tem que se fuder. Vale a pena lembrar que o público presente estava em grande quantidade e tais declarações objetivavam insuflar o público contra os policiais militares que estavam de serviço no evento, que colocou em risco a integridade física dos policiais militares e dos envolvidos no evento. Diante do exposto, esperamos que o cantor Emicida terminasse o seu show, oportunidade em que foi dado voz de prisão ao autor pelo crime de desacato, sendo garantido seus direitos constitucionais. Conduzimos o referido a delegacia regional de Barreiro para as providências que couber o fato. Ressalto que a testemunha Evandro Roque de Oliveira irmão do autor e o senhor Elcio Pacheco o advogado do conduzido.”
DEPOIS DIZEM QUE NESSE PAIS NÃO TEM PRECONCEITO...UM RAPPER NEGRO FOI PRESO POR CANTAR UMA MUSICA
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